quinta-feira, 1 de junho de 2023

LinkedIn | IA torna professores mais produtivos, mas ainda desafia escolas

 De Lucas Carvalho, da redação do LinkedIn Notícias

A popularidade da inteligência artificial generativa também cresce nas escolas. Segundo reportagem do Valor, professores brasileiros têm usado o ChatGPT como ferramenta de produtividade, gerando questões de provas e artigos distribuídos entre os alunos para reforçar o conteúdo das aulas. No entanto, as escolas admitem ter dificuldade para identificar quando estudantes usam a IA para trapacear em tarefas, por exemplo, com suspeitas sendo apuradas caso a caso pelos professores. Especialistas, porém, concordam que resistir à tecnologia é inútil: melhor é usá-la a favor do ensino.




O ChatGPT já se mostrou capaz de resumir livros em parágrafos claros e coerentes, solucionar problemas complexos de matemática e até corrigir bugs em códigos de softwares. Mas enquanto alguns veem nessa inteligência artificial da OpenAI uma maneira de “automatizar a trapaça”, outros veem uma ferramenta com potencial para transformar o ensino.

É o caso de David de Oliveira Lemes, diretor da Faculdade de Estudos Interdisciplinares da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Enquanto introduzia seus alunos aos conceitos iniciais de algoritmo e lógica de programação, ele mostrou à turma um código errado e pediu que tentassem encontrar o erro. Depois de solucionado, David pediu que o ChatGPT também tentasse encontrar o erro. E ele encontrou.

“Ainda estamos no começo, foi meu primeiro encontro com a turma. Mas eu pretendo continuar usando [a IA]. Vai ser uma ferramenta de aula para trabalhar o senso crítico dos alunos, até a gente encontrar os erros do próprio ChatGPT. Ele não é infalível”, diz o professor, em entrevista ao LinkedIn Notícias.

Lemes faz parte de um grupo de professores que, através do WhatsApp, troca ideias sobre como usar a inteligência artificial como ferramenta de ensino – na contramão de plataformas, universidades, revistas científicas e escolas básicas ao redor do mundo que estão proibindo o uso dessa tecnologia.

O grupo foi criado pelo LinkedIn Top Voice Diogo Cortiz, que além de professor de design é pesquisador de ciência cognitiva. Segundo ele, proibir o ChatGPT ou ferramentas semelhantes em sala de aula é improdutivo.

“Uma coisa que temos levantado bastante nesse grupo e outros é a importância de explorar o ChatGPT com os alunos, explicar como ele funciona e quais são suas limitações técnicas e conceituais”, diz Cortiz, ao LinkedIn Notícias.

“Temos que desenvolver o espírito crítico nos alunos, para que eles não achem que [a IA] é um oráculo ou que serve só para trapacear.”

Cortiz sugere inserir ferramentas de IA em sala de aula como recursos pedagógicos, para que os estudantes possam usá-las para resolver atividades. A avaliação seria feita com base no que o aluno faz com as respostas oferecidas pelo ChatGPT ou semelhantes – como o recém-lançado modo de chat do Bing, da Microsoft (empresa controladora do LinkedIn).

Ronaldo LemosLinkedIn Top Voice e professor convidado na Universidade de Tsinghua, na China, também afirma que em suas aulas no Colégio Schwarzman o uso do ChatGPT não será só liberado, mas obrigatório. A avaliação dos estudantes, porém, será feita com base nas perguntas que eles fizerem, e não nas respostas da máquina.

Ensinar os alunos a fazer as perguntas certas pode fazer a diferença no mercado de trabalho do futuro. Especialistas acreditam que o design de prompts – isto é, dos comandos que o ChatGPT e outras ferramentas leem – será um pré-requisito para vagas que utilizem IAs generativas.

Já existem até mercados virtuais de prompts, como o Promptbase, em que “receitas” cuidadosamente projetadas para tirar os melhores resultados da IA são vendidas e compradas.

“É como se você estivesse aprendendo a programar um robô. Só que, nesse caso, os comandos muitas vezes são frases que você usa todo dia e podem envolver mais malandragem ou experimentos com palavras do que matemática. Olha a oportunidade para quem é de humanas!”, escreve o jornalista e consultor Rafael Kenski.

Para a consultora e pesquisadora em educação Mirela Ramacciotti, o crescimento de ferramentas de IA é um momento oportuno para se repensar métodos de ensino usados há décadas, e avaliar o próprio processo de aprendizagem dos estudantes.

“Convide seus alunos a começar o trabalho de aprendizagem pela ferramenta”, escreve a pesquisadora.

A ideia é que se um robô consegue responder à pergunta apresentada em aula, o problema está na pergunta, e não nos alunos.